quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Se Cristo é a resposta, qual é a pergunta?

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Um de meus compositores favoritos, Sérgio Pimenta, dizia que o homem vive com uma saudade constante de Deus. Todo homem convive com isso. Os que conhecem a Deus deleitam-se com a esperança do pleno encontro. Os que não o conhecem têm tal saudade traduzida em constante vazio. Preencher o vazio é tarefa do Espírito; anunciar, proclamar a possibilidade do preenchimento é tarefa da igreja.

Há algum tempo as igrejas batistas em São Paulo fizeram uma campanha tendo como frase tema Cristo é a resposta. Fizeram adesivos, cartazes, camisetas. Pintaram fachadas e muros. Um desses muros foi o do colégio Batista em São Paulo. Mas o que verdadeiramente me chamou a atenção e me marcou em definitivo foi uma pichação que fizeram no muro alguns dias depois de terem pintado a frase-tema. O indivíduo questionou: “Se Cristo é a resposta, qual é a pergunta???”


Como pessoas, nossas vidas muitas vezes não respondem ao sublime e radical chamado de nosso Mestre à adoração pela proclamação, ao amor pela obediência, ao relacionamento pela comunhão, à missão pelo serviço. Como igreja, temos respondido a perguntas que não são mais feitas, dado gritos no vazio de nosso egoísmo e nos limitado aos muros dos guetos que construímos. Não ouvimos mais o clamor do mundo, os seus berros inquietos, gritos desesperados, gemidos de dor sem cura nem resposta, os sons que vêm de fora do portão.

Tenho procurado disciplinar os ouvidos de meu coração ao grito dos aflitos, os que clamam por um “amor maior” (Jota Quest), aos que dizem que “o que falam na TV sobre o jovem não é sério” (Charlie Brown Jr.), que “pequenos momentos podem se tornar inesquecíveis” (idem).

Tenho tentado fazer com que os olhos da minha alma vejam o que Deus vê, os destroços de “La Guernica” (Picasso), o menino que “tá vendendo drops no sinal para alguém” (Lenine), a ver o rosto de Cristo na escultura perfeita de Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa), a chorar com quem está “à procura da felicidade” (Steve Conrad e Will Smith) sem encontrá-la de fato.

Tenho deixado meu espírito ser guiado pela “santa tolice da fé que crê poder mudar o mundo” (São Francisco de Assis), que anseia por ver “para todo mal, a cura” (Lulu Santos), que acredita que “paz sem voz não é paz, é medo” (O Rappa), que contempla a “unimultiplicidade, onde cada homem é sozinho a casa da humanindade” (Tom Zé).

“A estrada segue, seguindo vou” (Carlinhos Veiga). “Se quiser saber pra onde eu vou, para onde tenha sol, é pra lá que eu vou” (J. Quest). Um sol que brilha resplandecente e espanta a noite. “O sol que conheci num dia em que a vida ardia sem explicação” (Cássia Eller).

Aceito, mesmo temeroso, tanto o desafio de tentar discernir a beleza e a angústia expressas no clamor de quem “está fora” (e será que está mesmo?) quanto o de, ao invés de buscar respostas, ser, como Igreja, a resposta de Deus para as inquietações do mundo.


Fabricio Cunha 


Fonte:Solomon

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