segunda-feira, 22 de junho de 2009

Três poemas de Gióia Júnior

Tarsila do Amaral - Morro da favela


SALMO I

O Senhor está no barracão da favela
e a fome é menos rude
e o frio é mais ameno;

O Senhor está nos bondes barulhentos
e o cansaço é mais leve
e o perigo é menor;

O Senhor está ao lado dos guardas da noite
e o medo não existe
e não há solidão;

O Senhor está no cais onde os homens trabalham
e os fardos são mais leves
e as horas menos lentas;

O Senhor está nos asilos onde os jovens anseiam
e a Sua presença aquece
como um retorno de mãe;

O Senhor está nos hospitais de indigentes
e a dor desaparece
e o sono logo vem...

Bendito seja o Senhor!
______________Bendito seja!
_________________________Amém!



INTERLÚDIO I

Ah! noite aquela em que Ele foi traído!
e foi abandonado e foi moído
por minhas transgressões! Ah! noite aquela,
dura e profunda, silenciosa e bela!
de uma beleza trágica e voraz!
De ti, oh, noite, vem a nossa paz...
De tua escuridão irrompe a luz
nasce o perdão, desperta a fé, emerge a cruz.



INTERLÚDIO II

Onde estão os muros da Cidade Eterna?
onde estão os salvos? e os queridos meus?
onde estão as luzes da manhã primeira?
onde a estrela santa do menino-Deus?
onde estão as vozes do coral celeste
anjos proclamando que chegou a luz?
onde brilha agora o sangue do Cordeiro
no momento exato em que morreu na cruz?

Meu Divino Mestre, dá-me a Tua mão
para que eu os ache no meu coração!
e embora haja trevas e embora anoiteça
que eu nunca os esqueça... que eu nunca os esqueça.

Do livro '25 Anos de Gióia Júnior', Editora Betânia, 1976

Nenhum comentário:

Postar um comentário