Philip Yancey, 62 anos, escritor e
jornalista, é casado com Janet e vive nas montanhas do Colorado. É um
autor norte-americano muito consagrado no meio cristão internacional,
tendo ganhado diversos prêmios literários. Crescido em uma igreja
fundamentalista e racista no sul dos Estados Unidos, ele aprendeu ao
longo da vida que a graça é o ponto central do cristianismo que muitas
igrejas têm esquecido. Autor de Best-sellers como “Maravilhosa graça” e “Decepcionado com Deus”, Philip concedeu ao Trinta e Três seu ponto de vista sobre a Blogosfera.
33: Você é um dos mais
influentes escritores de nossos tempos. O que você tem a dizer sobre os
blogs? Poderiam os blogueiros ocupar o lugar antes ocupado apenas por
escritores de livros?
PY: Eu sou bem à moda antiga, e
gosto de segurar livros em minhas mãos, para que eu possa sublinhá-los
enquanto leio. Por essa razão, eu espero que os blogs não levem embora
os livros, apesar de saber que eles oferecem um novo e rápido (e mais
Ãntimo?) meio de comunicar com a nova geração. Na verdade, eu tenho meu
próprio blog. Não é muito regular, mas eu acho que ele me dá uma
liberdade de escrever quando eu quiser, sem datas marcadas; sobre o que
eu quiser, sem me preocupar com o quanto tenho que escrever. Em revistas
e livros, eu tenho que me preocupar com a extensão dos textos, mas não
no blog.
33: Que dicas você daria para
novos escritores ou para aqueles que gostariam de começar a escrever?
Você acha que começar um blog pode ajudar?
PY: A única forma de aprender a
escrever e se aperfeiçoar é escrevendo! Então, sim, criar um blog pode
ser uma ótima ajuda. Isso te força a colocar as palavras para fora,
brincar com elas, movê-las de lugar, descobrir o que comunica e o que
não. Além disso, blogs normalmente têm espaço para comentários, e a
segunda chave para começar a escrever é o feedback. Eu recomendo que os
aspirantes a escritores entrem em um pequeno grupo de outros como eles,
para que regularmente leiam os materiais uns dos outros, pedindo
comentários sobre o que funciona bem e o que não. Os blogs podem
providenciar esse serviço.
33: Como a internet pode ser
usada para mostrar a graça de Deus (não apenas com os blogs, mas também
com Facebook, Twitter e outros)?
PY: A internet atinge além das
barreiras culturais. Eu posso ouvir pessoas no Oriente Médio ou China,
por exemplo, que não poderiam me escrever pelo correio tradicional sem
correr perigo. Além disso, elas podem escrever de forma privada,
perguntas pessoais que não poderiam fazer num ambiente público. Eu tenho
notado uma tendência, entretanto, de as pessoas usarem a internet para
não mostrar a graça. Talvez a necessidade de uma resposta imediata faça
com que eles se tornem mais propensos a uma resposta incendiada de ódio
ou paixão, do que a uma resposta cuidadosa, fundamentada. Eu espero que
os cristãos sejam modelos de cuidado e reconciliação na internet –
afinal de contas, Jesus nos disse para amar os nossos inimigos.
33: Muitas pessoas no Brasil
têm tirado vantagem da oportunidade que a internet dá, para apontar
alguns defeitos da Igreja. O que você tem a dizer a respeito disso?
PY: Bem, a internet pode ser o lugar
mais seguro para vozes crÃticas da Igreja. Contudo, eu espero que eles
não usem isso como uma forma de criticar pessoas ou organizações
especÃficas. Caso contrário, pode-se tornar um lugar propÃcio a fofocas
jogadas ao vento. Por outro lado, em alguns lugares não se tem acesso a
igrejas saudáveis, e a internet pode prover para essas pessoas um tipo
de “Igreja virtual”, permitindo que eles se conectem com cristãos
saudáveis e maduros. Nem todo mundo pode achar uma igreja repleta de
graça com a sã doutrina. A internet expõe outros modelos por aà com os
quais podemos aprender.
33: Como podemos fazer diferença em nosso mundo, apenas escrevendo?
PY: Eu faço essa pergunta a mim
mesmo o tempo inteiro. Uma vez eu escrevi um artigo sobre a diferença
entre minha vida isolada e a de minha esposa (Na época, ela era
assistente social em Chicago). Todas as noites ela vinha para casa com
histórias de resposta a reais necessidades humanas enquanto eu apenas
movia palavras e vÃrgulas numa tela de computador. Mas se eu escolhesse
bem sobre o que eu escreveria, eu poderia inspirar e nutrir pessoas como
minha esposa, que estava nas “linhas de frente” da fé. Eu me lembro de
autores que ajudaram a moldar meu estilo de vida e fé. Eles também se
assentaram em um quarto solitário e moveram palavras no computador, mas
eles me trouxeram esperança e saúde. Talvez eu possa fazer isso para
outros. Além disso, eu não poderia ser bom em serviço social ou
capelania! Todos nós temos diferentes dons, e escrever é apenas um – mas
é um que Deus também pode usar.
33: Aqui no Brasil, também, os
blogs têm ganhado espaço entre os jovens. Alguns destes chegam a passar
horas em frente ao computador lendo blogs de humor, e é muito comum
alguns (talvez muitos) desses blogueiros falarem coisas ruins sobre
Jesus, em grande parte porque as pessoas que supostamente deveriam ser
cristãs têm falado coisas estúpidas, que não estão na BÃblia. Você acha
que a mensagem da graça tem espaço nessa “blogosfera” ateÃsta?
PY: Eu acredito que tais blogs
oferecem uma oportunidade (e um desafio) aos cristãos de demonstrarem o
Fruto do EspÃrito descrito em Gálatas 5: amor, alegria, paz, paciência,
bondade, longanimidade, etc. Quando eu escrevo para blogs seculares,
fico impressionado com o quão maus, cruéis e desdenhosos os leitores
podem ser. Nosso trabalho como cristãos é mostrar um outro caminho,
mesmo quando nós discordamos. Ler blogs pode ser perda de tempo, embora
possa ser também uma “avenida” onde podemos viver nossa fé.
33: Como os cristãos podem
falar sobre assuntos polêmicos, como aborto, homossexualismo, pena de
morte, sexo antes do casamento, falando sobre graça, sem liberalismo nem
legalismo?
PY: Com certeza os cristãos têm
feito isso há bastante tempo em livros e artigos de revista. Eu espero
que tratemos o outro lado com respeito e dignidade. Nós devemos dar a
eles uma chance de expor o seu caso e, então, cuidadosamente e com
compaixão, explicar o motivo pelo qual nós possamos vir a discordar. Os
mesmos princÃpios que se aplicam a conversas e artigos em revista se
aplicam aos blogs. A grande questão é: como podemos mostrar o amor?
Responda a esta questão e você terá a resposta à pergunta que me fez.
Nós devemos seguir o exemplo de Jesus, que viveu entre pessoas que devem
ter o ofendido gravemente. No entanto, ele conseguiu atraÃ-los. Se os
cristãos apenas fossem mais parecidos com Jesus…
33: O quanto ler coisas na internet já te ajudou (se isso já aconteceu)?
PY: Eu uso a internet principalmente
para pesquisa. No passado, eu passava horas em bibliotecas para
rastrear a fundo os fatos sobre os quais gostaria de escrever. Agora eu
simplesmente uso o Google e tenho toda essa pesquisa instantaneamente,
na minha própria casa. Eu adoro isso! Eu não uso a internet para ler
artigos de opinião, apesar de usá-la para verificar as notÃcias de
fontes como a BBC.
33: Se Jesus vivesse em nossos tempos, você acha que ele teria um blog?
PY: DifÃcil de dizer. Ele era tão
sociável, que a maior parte de seu trabalho envolveu olhar as pessoas
nos olhos e tocá-las. Ele nunca deixou nada escrito. Por exemplo, na
única cena que temos dele escrevendo (em João 8), ele escreveu na areia,
que logo seria levada pelo vento. Então meu palpite é que ele não teria
um blog. Ele focava em pequenos grupos de pessoas, especialmente seus
12 discÃpulos, e não tinha especial interesse em comunicação em massa.
33: Foi uma honra para nós podermos te entrevistar! Deixe um recado para as pessoas que irão ler sua entrevista no Brasil.
PY: Eu fiquei muito honrado em ser seu primeiro entrevistado! Para os leitores, visitem o meu site: www.philipyancey.com!
Ou vocês podem me achar no Facebook, sendo que eu monitoro dois perfis,
o oficial, em inglês, e um outro, direcionado um pouco para a
Venezuela, que inclui muitas respostas em espanhol e português. Apenas
digite meu nome no Facebook que você verá uma foto marrom (meu site) e
uma foto verde (meu site internacional).
Philip tem uma seção em seu site,
chamada Writing (em inglês), onde dá muitas dicas para quem deseja
ingressar nesse mundo. Em diversos livros ele cita as alegrias e
dificuldades da vida de escritor, mas recomendo especialmente o livro
“Alma sobrevivente”, onde o autor revisa sua história citando diversas
pessoas, em sua maioria escritores, que o influenciaram a ser o cristão
que é hoje.
Por Daniela Nogueira
Fonte: Solomon
Nenhum comentário:
Postar um comentário