terça-feira, 28 de abril de 2009

Vida: Solidão ou Solidariedade?


Um bom texto para refletir sobre as palavras acima. Agora, ele necessita de uma leitura calma e cuidadosa.


O viver é solitário e solidário. Participamos de miríades de outras vidas que nos alimentam e que alimentamos. Cada vida autônoma é possuída no interior e no exterior por outras vidas. Ninguém nasce só. Ninguém está só no mundo, no entanto, cada um está só no mundo.

O comportamento animal é um desencadeamento initerrupto de esforços para alimentar-se, atacar, defender-se, fugir. Apressa-se, agita-se, erra-se, arrisca-se a vida para comer, isto é, para viver. A desigualdade/diversidade está escrita na determinação genética que enraíza a planta, faz rastejar a serpente, voar a ave. O leão vive de amor e carne fresca e pode dormir três dias após uma boa refeição. Mas bilhões de seres passam a maior parte do tempo à procura de um alimento; vivem para comer mais do que comem para viver. Bilhões de seres passam o tempo à espreita, a espiar, a fugir, vivem mais para sobreviver do que sobrevivem para viver.
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Existir é um modo de ser aleatório, dependente, em recomeço. O ser vivo é um ser de necessidade e de carência. Não passamos de um redemoinho efêmero, mas computante pois vive baseado no cálculo. Calculamos tudo em nossa vida. Até as plantas calculam, criam estratégias no seu modo de reprodução/disseminação, nas suas inter-relações fitossociológicas. Tudo se passa como se a planta ou a àrvore no seu conjunto constituísse, através das interações informacionais entre células, uma espécie de cerebralidade, indiferenciada do próprio ser, produzindo fito inteligência. Assim como os neurônios associados ao acaso no nosso cérebro não sabem que as suas intercomunicações aos bilhões constituem o nosso pensamento, igualmente os indivíduos celulares de um organismo, policelulares de uma sociedade, polimorfos de um ecossistema, não sabem que as suas interações egoístas e míopes resultam globalmente do conhecimento, da inteligência, da estratégia.

Pelo fato de todo o ser vivo ser um ser de carência e de necessidade, é sempre por computação que responde à necessidade e à carência. E é a associação dinâmica da necessidade e do computo que faz o animal um ser de desejo, de procura, de exploração. No animal não existe, por um lado, a carência; por outro lado, o cálculo; mas existe, na e pela união da carência e do cálculo, a procura.

Embora se comuniquem com o mundo exterior, os seres vivos são, ao mesmo tempo, seres incrivelmente míopes e, para vastos setores de realidade, cegos. As bactérias têm apenas quimio-receptores pobres; os vegetais são desprovidos de redes nervosas. Inúmeras espécies não têm olhos. Os olhos da rã só distinguem o movimento, e não a mosca móvel. Os sentidos podem ser logrados, enganados. Uma macaca pode embalar um manequim como se fosse um filho.

Como dizia linda frase: ser livre é ser dependente e diferente uns dos outros. Salve os antagonismos e a diversidade que obras das mãos de Papai do Céu.

Observem que até Deus é diferente, cada religião constrói a sua configuração de Deus. O Deus da religião A é AZUL, o da Religião B é marrom; o da Religião X é moralista e está no controle de tudo e ainda é “Deus verdadeiro”; Einsten chegou a dizer que Deus era o próprio cosmo infinito e que possuía leis próprias. Cada um puxa a sardinha para o seu lado. Mata-se em nome de Deus; rouba-se em nome de Deus; adestra-se o outro e Nome da “VERDADE”. Nietzsche sabiamente escreveu: Deus é uma construção humana, porque cada um configura de um jeito. Deus criou o homem ou o homem criou Deus? Deus criou a diversidade, inclusive deu ao homem o livre arbítrio e a capacidade de estabelecer especulações sobre Ele que é o próprio MISTÉRIO. Dependemos do Deus construção humana e esse Deus carece de nós para se manter vivo. Os deuses dependem das pessoas para se manterem vivos. Morre-se as civilizações e os deuses morrem junto. Carregamos a morte e a vida dentro de nós. É necessidade humana interagir com os deuses que funcionam como TALISMÃS. Há aqueles que usam a Bíblia, os cânticos, as ideologias, as imagens dos santos, as rezas e orações, os sacrifícios, os martírios, os escritos dos seus líderes e depositam a fé nessas coisas e as coisas acontecem. Fé é fé, é inquestionável, cada um tem a sua.

Mesmo sabendo que o tenho um Deus construto familiar, é com ele que eu me apego, porque não tenho acesso ao Mistério. Diante do mistério eu me sinto solitário. Mas quando eu chamo ele de PAPAI DO CÉU, eu sou abraçado, eu sinto um calor solidário, ouço aquela frase: SEM MIM NADA PODEIS FAZER/ O MEU SOCORRO VEM DE PAPAI QUE ME QUER ABRAÇAR e me dar um CHEIRINHO NO CANGOTE. O abraço de Deus pode ser um abraço de seu amigo. É impossível abraçar a Deus se você não abraça o seu amigo. É impossível conectar-se com o invisível se não conectarmos simbioticamente com o semelhante visível. Ser livre é ser carente uns dos outros.

Sorria! O sorriso de Deus pode ser o sorriso de seu amigo/semelhante.

Abraços!

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