terça-feira, 13 de abril de 2010

O problema do prazer


De algum modo, os cristãos adquiriram a reputação de serem contra o prazer, apesar de acreditarem que o prazer foi invenção do próprio Criador.
Temos que fazer uma escolha. Podemos apresentar-nos como pessoas rígidas, enfadonhas, que são privadas, sacrificialmente, de metade da graça da vida, limitando nosso deleite no sexo, nos alimentos e em outros prazeres dos sentidos. Ou podemos dispor-nos a aproveitar ao máximo o prazer, o que significa usufruir dele da maneira que o Criador pretendia ao nos moldar.
Nem todos adotarão a filosofia cristã do prazer. Alguns céticos zombarão de qualquer insistência quanto à moderação, com uma atitude de condescendência. Para estes, tenho algumas perguntas simples. Por que o sexo é prazeroso? Por que é gostoso comer? Por que existem cores? Ainda estou à espera de uma boa explicação que não inclua a palavra Deus.


Como abordado por Philip Yancey no texto acima, os cristãos geralmente são tidos por inimigos do prazer. Somos muito mais apontados pelo nosso estilo de vida restritivo e sacrificial no tocante aos prazeres do que pelo amor de uns pelos outros (João 13.35).
O mundo conhece-nos pelo que não fazemos: “Eles não bebem cerveja (não me incluo nessa), não fumam (acho nojento), não dançam (sou simplesmente ridículo dançando) e não contam piadas (prefiro rir delas)!”. Normalmente, é assim que as pessoas se referem aos “crentes”.
Lembro-me de ouvir casos que me estarreciam e até me divertiam: “Naquela igreja os casais têm que fazer sexo com a luz apagada para não incitar a concupiscência dos olhos; os lençóis tem os buracos necessários para o ato de forma que não precisem se despir; e devem evitar ao máximo tomar banho de todo pelado para não ocasionar que Jesus volte e deixe-o, por pegá-lo tão desprevinido!”.
A igreja perdeu muito tempo encabeçando sua lista de prioridades com investidas contra o prazer. Por conseguinte, poupou a simpatia das pessoas. Segundo G.K. Chesterton, “o modo apropriado de agradecer por tudo é através de uma forma de humildade e restrição. Deveríamos agradecer a Deus pela cerveja e o vinho da Borgonha não bebendo muito deles”. O prazer, diferentemente de como a igreja o tem tratado, é dádiva de Deus.
Um Deus bom e amoroso naturalmente iria desejar que suas criaturas sentissem prazer, alegria e satisfação pessoal. Philip Yancey.
Deveríamos usufruir do sexo de forma plena e grata através do casamento (monogamia). Não, deturpando e profanando tal dádiva com a promíscuidade. Deveríamos apreciar os alimentos e as bebidas na sua diversidade paladar. Não desonrando tais dádivas com glutonaria e dependência.
É interessante que o livro de Eclesiastes trata de forma extremamente radical o problema do prazer. O autor mostra-nos que quando fazemos mal uso do prazer em nossa vida, esta perde todo o sentido, então tudo se torna vaidade e correr atrás do vento. Na opinião de Chesterton, a promiscuidade sexual descrita em um livro como Eclesiastes (o autor presumido tinha 700 esposas e 300 concubinas – hummmn!) não supervaloriza o sexo; antes, desvaloriza-o.
Reclamar de só poder me casar uma vez é como reclamar de só ter nascido uma vez. Essa reclamação era desprorcional à excitação terrível da qual se falava. Mostrava não uma sensibilidade exagerada ao sexo, mas uma curiosa insensibilidade a ele… A poligamia é a ausência de realização sexual; é como um homem que colhe cinco pêras sem prestar qualquer atenção a elas.

Concluímos a dicotomia que é o prazer. É um grande bem e um grande perigo. Quando buscamos o prazer como um fim em si mesmo, corremos o iminente risco de perder o foco da origem do prazer: Deus. Tornamo-nos vazios e insatisfeitos, ao invés de, realizados e gratos.

Como cristãos deveríamos mostrar ao mundo que momentos de prazer são vestígios assim como os objetos levados para a praia depois do naufrágio. São como bocadinhos do Paraíso dispersos pelo tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário